Observemos bem:
O fato de alguns católicos serem credores da tese reencarnacionista ou da transmigração das almas, não quer dizer que a Igreja Católica seja defensora e credora de tal tese. Na verdade, o Catolicismo sempre declarou oficialmente a inexistência da reencarnação, ressaltando ainda a incompatibilidade que há entre a reencarnação e a ressurreição e sobre outros pontos católicos, como veremos a seguir.
Na teoria reencarnacionista, a salvação da alma do homem depende diretamente das imprescindíveis e sucessivas encarnações, a fim de que purifique os pecados cometidos pela mesma em suas vidas anteriores, através dos sofrimentos e das dificuldades diversas que lhe são infligidas na vida presente. Assim, uma pessoa que nasça pobre, cega, paralítica, ou com qualquer outro problema, de qualquer outra índole, está somente passando por uma purificação de seus pecados e de suas más atitudes, cometidos outrora numa outra vida. Segundo a mesma teoria, essas sucessivas encarnações só se findarão quando o homem tiver atingido uma purificação de seus pecados suficiente (que para seus adeptos é a perfeição) para sua alma ser admitida ao Reino dos Céus. Caso contrário, permanecerá no processo de reencarnação.
Como se vê, é deixado à margem o sacrifício redentor de Cristo, que trouxe de volta ao homem, mediante seu sangue jorrado na cruz e mediante sua ressurreição, a possibilidade da salvação ou da vida eterna em Deus. Os homens eram imortais antes de pecarem e viviam em plena harmonia com Deus. Infelizmente, devido à desobediência pecaminosa de nossos primeiros pais, esta harmonia foi rompida, gerando, conseqüentemente, a desgraça mortal a toda raça humana. Todavia, pela ação amorosa do Verbo Encarnado, Jesus Cristo, que morreu, ressuscitou e venceu definitivamente o pecado e a morte (não pecando e ressuscitando) abriu-se novamente a porta de acesso para a felicidade e para a vida eterna em Deus. Qualquer pessoa está credenciada a conseguir a bem aventurança celeste, desde que ponha em prática as virtudes do Senhor Jesus, renunciando ao pecado e amando a Deus e aos irmãos. Este é o conceito cristão concernente à salvação, bem distante do conceito reencarnacionista. Acompanhemos a Bíblia narrando estes fatos:
“E Iahweh Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás que morrer””(Gn 2,16-17).
“A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o também a seu marido, que com ela estava e ele comeu” (Gn 3,6).
Deus disse então ao homem: “Com o suor de teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás”(Gn 3,19).
“Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”(Rom 5,12).
“Entretanto, não acontece com o dom o mesmo que com a falta. Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos”(Rom 5,15).
“Ora, a Lei interveio para que avultasse a falta; mas onde avultou o pecado, a graça superabundou, para que, como imperou o pecado na morte, assim também imperasse a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rom 5,20-21).
“Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17).
“Dizia ele a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”” (Lc 9,23-24).
Evidentemente se nota, por tais versículos, que a salvação do ser humano decorre da graça de Deus em Jesus Cristo e não do esforço pessoal de cada indivíduo que tende a purificar-se consoante diversas encarnações. A tese da transmigração das almas também obnubila por completo o dogma mais importante do Cristianismo: a ressurreição dos corpos; uma vez que admite que uma alma passa por vários corpos diferentes, contrariando clarividentemente o Catolicismo, que apregoa a ressurreição como sendo a reunião da alma ao único e respectivo corpo (agora transfigurado) que a pessoa adquiriu em sua única vida terrestre.
“E esta é a vontade de quem me enviou, que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas que os ressuscite no último dia (é o dia do juízo final)”(Jo 6,39).
“E tenho em Deus a esperança, que também eles acalentam, de que há de acontecer a ressurreição, tanto de justos como de injustos” (At24,15).
“Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós pelo seu poder” (1Cor 6,14).
“Até já sentíamos, como certa, a sentença de morte, para não confiarmos em nós mesmos e sim em Deus, que ressuscita os mortos” (2Cor 1,9).
“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morrerem. Eis o que vos declaramos conforme a palavra do Senhor: nós, que ficamos ainda vivos, não precederemos os mortos na vinda do Senhor. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os vivos, que estamos ainda na terra, seremos arrebatados juntamente com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. Assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”(1Ts 4,14-18).
Ademais, a Bíblia, que é a Palavra de Deus a nós cristãos, também rejeita veementemente a reencarnação:
“Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio” (Lc 16,22-23).
“Por conseguinte, estamos sempre confiantes, sabendo que, enquanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansão, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão... Sim, estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor. Por isto também esforçamo-nos por agradar-lhe, quer permaneçamos em nossa mansão, quer a deixemos. Porquanto todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5, 6-10).
“E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento...” (Hb 9,27).
“O pó volte à terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor” (Ecl 12,7).
Esta documentação Bíblica serve para elucidar o quanto a reencarnação está longe do testemunho Bíblico, que apregoa o destino da alma espiritual do homem, após sua disjunção do corpo material, ao céu (podendo passar pelo purgatório) ou ao inferno.
A tese da reencarnação nega também, por si mesma, os dogmas católicos concernentes ao inferno (estado definitivo dos condenados) e ao purgatório (estado de purificação da alma), pois diz que todos os homens poderão se salvar através das necessárias e sucessivas encarnações (anula então o inferno), onde estarão em progressiva purificação dos seus pecados (anula então o purgatório). Ora, os que, por ventura, crêem na reencarnação, devem estar cônscios de que estão em aberta oposição à fé católica!
Podemos, outrossim, acrescentar algumas serenas e breves reflexões que se colocam a efeito de refutação da doutrina reencarnacionista.
Uma delas é a ausência de recordações. Castigar alguém por ter praticado um ato mal, do qual este não consegue se lembrar, é anti-ético e anti-pedagógico. Igualmente, Deus não pode castigar ou “fazer justiça” a uma pessoa numa encarnação póstuma, pois não haverá a ela, as recordações de seus procedimentos maus ou bons praticados em sua encarnação passada. Seria anti-ético da parte de Deus agir dessa maneira!
Outra reflexão que é colocada no sentido de desmantelar a tese da transmigração das almas é a do conformismo. Ao ser humano, que passa por sérias dificuldades e sofrimentos, é dito que se conforme com a situação, e que aceite a “vontade de Deus” sem rixas e reclamações. Isto acaba impedindo-o de lutar contra as adversidades que lhe são impostas, mas, não obstante, superáveis e vencíveis. Ficará sempre no lamaçal, pensando ser esta a vontade de Deus. Porém, o que Deus anseia ao ser humano, é bem contrário ao que se pensa: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Também é colocado o problema da ofensa aos sofredores. É dirigido, ao homem que nasça miserável, por exemplo, ofensas e acusações como “bem feito, está pagando pelos pecados de sua vida passada”, “quem mandou ter se comportado mal na encarnação anterior. Agora, é justo que sofra”, ou seja, o que sofre nesta vida, é visto como um malfeitor e pecador que está sendo justamente punido por suas más atitudes cometidas na encarnação passada. É deixado de lado, toda a injustiça humana, que de um jeito ou de outro, destinou este homem ao nascimento na miséria.
Por estas reflexões e por tudo quanto foi exposto, fica claramente plausível a inconsistência que existe acerca da crença reencarnacionista e a crença católica que acredita na ressurreição.
Esse artigo foi retirado do meu livro "30 Questões Para Conhecer Melhor A Fé Católica". O link para conhecer esse livro digital está logo abaixo.
Data da Publicação: 09/11/2021
Categoria do Artigo: Doutrina
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